quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Apresentação

 Nasci, estudei e iniciei minha carreira profissional no Brasil. Moro nos Estados Unidos há cerca de dez anos. Sempre trabalhei em multinacionais e, como dizem por aqui, subi progressivamente a escada corporativa até chegar a uma posição de nível exeutivo. com boa remuneração e benefícios, mas também com todas as agruras do mundo corporativo - as famosas "algemas de ouro".

Estou há mais de 20 anos nesse mundo corporativo, e olhando em retrospecto, cheguei até além do que imaginava. Sempre gostei muito do meu trabalho e estilo de vida, tinha orgulho de fazer parte daquela engrenagem e realmente curtia o mundo que meu trabalho me proporcionava. Muitas viagens, conhecendo pessoas interessantes, lugares (e hoteis/restaurantes) bacanas. E aprendendo muito. Dinheiro não foi o objetivo durante muito tempo da minha carreira, o que foi possível por ter a oportunidade de morar com meus pais até quase 30 anos sem precisar contribuir com as despesas da casa.

Cheguei a um primeiro cargo de gerência com 25 anos, e nesse ponto passei a ganhar razoavelmente (antes eu praticamente  apenas cobria os custos de trabalhar). Saí da casa dos pais, de forma que o aumento na receita foi praticamente eliminado pelo aumento dos gastos. Mas ainda assim sobrava, e por alguns anos realizei muitos sonhos de consumo. Em outras palavras, gastava tudo que sobrava. 

Comecei a poupar tarde, por volta dos trinta e poucos. A regra era: gasta o salário mensal, mas o que vier de bônus é religiosamente guardado. Aplicava em fundos, juros no Brasil uma beleza, zero esforço, zero risco e muito retorno. Talvez até pela facilidade, não me esforçava em aprender nada diferente. O dinheiro ficava lá, mas eu não acompanhava. Não me interessava se estava rendendo bem, já era um grande feito eu conseguir não gasta-lo.

Em algum momento nessa época, não me lembro o por quê, li "Pai Rico, Pai Pobre". Foi uma revolução. Por isso até hoje o recomendo para quem vem de um ambiente familiar com zero foco em educação financeira (como eu - assunto para outro post) e quer começar do zero. Comecei a ler fóruns de investimentos (acho que era o forum do "Blog do Pai Rico", nem sei se ainda existe), e daí passei a ler mais e mais, e a me arriscar comprando ações. Pouca coisa, mas aprender fazendo é a melhor coisa. 

Esse foi o período de aprendizado e consolidação do hábito de poupar e investir.

Nos anos seguintes veio o real período de acumulação: salário aumentando sem aumento do padrão de vida permitiu aportes altos e constantes nos últimos anos. Boa parte do salário + 100% de quaisquer bônus. O objetivo era poupar E viver bem, então passei a priorizar o que realmente importava pra mim. A partir daí, simplifiquei o budget para facilitar esses dois objetivos: despesas fixas, savings e o resto é gasto livre. 

Mudei para os EUA. O desafio seria aprender tudo novamente aqui. Dinâmicas completamente diferentes. Mais por inércia do que por planejamento, optei por primeiro focar na poupança e aprendizado, para só depois entrar no mercado de ações. Resultado: sucesso na poupança, fracasso no rendimento: perdi o "boom" da bolsa americana nos últimos anos e agora vivo com o fantasma do (bad) market timing (de novo, assunto para outro post).

Mas junto com os aumentos de salário vieram desgastes no trabalho; as coisas que me atraíam deixaram de ter graça (p.ex., antes eu gostava genuinamente de jantares de trabalho, hoje fujo a qualquer custo, detesto networking) e um stress acumulado. A verdade resumida é que meus interesses e objetivos mudaram, e agora a dança delicada do mundo corporativo realmente não me diverte mais. Já foi muito bom, não me arrependo dos anos investidos ali, mas sinto que a única coisa que me mantém é o medo de sair e me arrepender. De onde surgiu esse medo?

No caminho bem sucedido da independência financeira (o tal do FIRE), cheguei na estação do burnout. Este blog retratará as próximas paradas dessa jornada. Qual o próximo destino?

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