sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Long time no see

 Após um longo hiato, aqui estou eu retomando o blog. Acabei de postar um artigo que estava em rascunho ha mais de um ano. 

Não fiz muitas edições, a ideia era tirar a teia de aranha e me animar a voltar a escrever. Ainda tenho alguns posts rascunhados, mas preciso dedicar algum tempo para finaliza-lós. E voltar a escrever com o propósito inicial: documentar a evolução da minha jornada financeira, profissional e pessoal.

Este ano pode ser dividido em duas fases: a primeira totalmente foçada no objetivo financeiro (poupar/investir) e de definir o futuro (mudar de emprego/sabático). A segunda parte foi de ferias, viagens, compras, o famoso “curtir a vida”. Tem 4 meses que não aporto 1 centavo - o lado positivo é que pelo menos também não usei nenhum centavo dos investimentos.

Foi ótimo. De vez em quando vem a lembrança de que nada é garantido nessa vida, e que a grande questão é saber dosar o viver o presente e o planejar para o futuro. E aí dane-se o poder dos juros compostos: notei que minha equação estava muito desbalanceada para o futuro (ainda que de curto prazo na minha cabeça). Meu eu presente diz que valeu a pena - não vou fazer a pergunta para o meu eu futuro. 

Agora voltando vagarosamente à mentalidade normal. É igual sair da dieta: fica mais difícil recomeçar. Volto daqui a um mês para contar.


Mudança para os Estados Unidos por transferência no trabalho - Contrato Local x Expatriado

Eu sempre tive o sonho de morar um tempo no exterior. A maioria dos meus amigos fez intercâmbio durante o segundo grau. Passei no vestibular, entrei na faculdade e já emendei um emprego, e após 5 anos, surgiu o convite para uma transferência para os Estados Unidos. A proposta era de contrato local, sem previsão de retorno. Tive um frio na barriga, meu sonho era uma "experiência temporária", mas aceitei sem pensar muito. A coragem da juventude...

Bom, a experiência temporária já tem dez anos. Aprendendo tudo na marra. Ainda aprendendo. E com alguma experiência para compartilhar o que eu teria feito diferente quando me mudei, em termos financeiros.

Contrato de Trabalho

Como falei, a proposta que recebi foi de um contrato local, e não uma transferência temporária como expatriado. Dessa forma, tive meu contrato no Brasil encerrado e fui recontratado nos Estados Unidos. Recebi alguns benefícios de transferência (pagamento da mudança, bônus de saída em Reais e de entrada em dólares, assistência tributária, reembolso de custos de moradia e alimentação por um determinado período).

Ao contrário do Brasil, em que tudo é meio padronizado por lei, aqui nos EUA é tudo negociado. Salário, dias de férias, pagamentos em caso de encerramento do contrato de trabalho ("severance pay"), bônus, tudo. Quando me mudei, olhei só o salário e aceitei o primeiro pacote que a empresa me ofereceu sem negociar mais nada. Descobri que só tinha 5 dias de férias no ano, além dos feriados. Não negociei nenhum "severance", de forma que a empresa pode terminar meu contrato a qualquer momento pagando apenas os dias já trabalhados. Férias vencidas? Se não usou, não recebe.

Então a dica aqui é: pesquise, negocie, faça uma contra-proposta. Negocie o numero de dias de férias remuneradas, inclusive feriados (algumas empresas não pagam pelos feriados). Negocie um pagamento caso a empresa termine o contrato (demissão): X semanas e extensão do seguro saúde por X meses. E se você está sendo transferido do Brasil, além do bônus de transferência, negocie que a empresa se comprometa a pagar o custo da sua mudança de volta em caso de demissão (como parte do pacote de severance).

Uma pergunta que sempre me fazem: é melhor ser expatriado ou ter um contrato local? Depende muito. 

Em geral, o contrato de expatriação tem muitos benefícios como pagamento de aluguel, escola de filhos, passagens para toda a familia visitar o home country 1x por ano, manutenção dos benefícios no Brasil. Por outro lado, mantém-se o valor do salário do Brasil - muitas vezes com um bônus durante o período do expatrio - e dependendo da movimentação cambial, há uma diferença grande entre o salário da posição no Brasil (em Reais) do salário da posição no exterior (em dólares). Mesmo com os ajustes de custo de vida ("COLA - cost of living adjustments"), esse efeito costuma ser relevante. 

Transferir um(a) empregado(a) como expatriado(a) custa muito mais para o empregador (não necessariamente se refletindo em aumento equivalente para o empregado). Em geral, a empresa vai sempre tentar o contrato local pois é mais barato no total. Então, se possível, negocie um contrato local em condições bem mais favoráveis. Se você não tem intenção de ficar nos EUA, o contrato de expatriação é a melhor opção. Mantém o pagamento no Brasil de FGTS e outros benefícios locais, tem o período automaticamente computado para fins de aposentadoria no Brasil. Expatriados recebem auxilio moradia durante todo o período do contrato no exterior, seguro saude no Brasil e no exterior, alem de um aumento salarial durante o expatrio (via de regra 25%) + o famoso COLA, que é um ajuste pela variação do custo de vida (normalmente cambio). Bom ressaltar que este bônus temporário normalmente representa um aumento salarial no retorno ao pais, pois as empresas tendem a incorporar o aumento salarial (imagino que pela limitação na legislação de reduzir o salário). Pacotes costumam incluir passagens de retorno 1x por ano ao Brasil.

Para quem vem com familia, o contrato de expatriação tem ainda mais vantagens pois extende todos os benefícios aos membros da familia e, muitas vezes, também arca com o custo das escolas dos filhos (a partir de uma certa idade). O beneficio escolar é um dos mais valiosos na minha opinião. 

Com todas essas vantagens, por que alguém escolheria um contrato local?

Bem, o primeiro motivo seria no caso de o empregado conseguir negociar um salário local incorporando o valor desses benefícios. Também facilita a negociação para que a empresa custeie e “sponsor” um pedido de green card (já que a transferência será de forma definitiva - ou tem a intenção de ser).

Outra vantagem, pra quem é elegível ao recebimento de bonus de desempenho ou ações da empresa, é que normalmente esses benefícios sao calculados sobre o salário-base, que tende a ser maior no contrato local. 

CONCLUSÃO 

A melhor alternativa varia dependendo da situação de cada um: mudança solo ou com familia (e filhos), intenção de viver permanente no exterior, possibilidade de negociação, nível do cargo (que requer comparar salário fixo vs benefícios, alem de impactos de tributação). 

Algum ponto importante que não ressaltei? Deixe seus comentários e experiencias nos comentários para seguirmos a discussão.

Grande abraço e prosperidade!

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Morando no exterior: o que fazer com os investimentos no Brasil?

Essa é a pergunta que me faço diariamente. A resposta pode parecer óbvia inicialmente, mas não é. E se trago tudo pra cá agora e o dólar volta aos níveis do início do ano? E se ocorrer o contrário, e o real seguir desvalorizando frente ao dólar?

Outro fator importante é a tributação universal: morando nos EUA, juros e dividendos recebidos no Brasil são tributados nos EUA. Na prática, eu pago a diferença entre a alíquota Brasileira e a americana. Considerando que nos EUA minha alíquota de imposto de renda (federal, estadual, etc) chega a quase 45% (: shock: ), e que no Brasil essa tributação seria de no máximo 15% (podendo ser zero no caso de dividendos e alguns ganhos de capital na venda de ações), o custo fiscal pesa bastante.

O outro fator seria qual mercado é mais estável no longo prazo - apesar de tudo, ainda acredito que os EUA, e por isso os novos aportes ficam todos por aqui. Porém há que se lembrar que a bolsa daqui está na alta histórica já há algum tempo, então uma forte correção não seria uma surpresa (ainda mais em ano de eleição e COVID).

Considerados esses fatores que não tenho como prever, acredito que a resposta passe por uma questão fundamental: em qual moeda serão as despesas, no curto e no longo prazo?

Planejo viver nos EUA por mais alguns (poucos) anos, talvez um período na Europa depois, mas voltar a fixar residência no Brasil. Ou seja, no curto prazo salário, despesas e aportes em dólares. Quando sair do meu emprego e largar as algemas de ouro (leia-se capacidade de aporte), eu ainda teria alguns anos gastando em dólares (ou Euros), e posteriormente gastando em Reais (no Brasil).

Desde que me mudei para os EUA (há cerca de 10 anos, ver post Apresentação), mantive no Brasil o que tinha investido por lá (alterando apenas o balanceamento entre o tipo de investimento) e os novos aportes foram todos em dólares no mercado americano. De lá pra cá aumentei apenas minha posição absoluta em dólares, e por conta da movimentação do câmbio, meu total em Reais subiu consideravelmente (e meus aportes em USD "compensaram" a perda do valor em dólar dos investimentos em Reais). O efeito teria sido o inverso (e será) se o real tivesse se valorizado frente ao dólar. 

No passado, o Real tinha tendência de desvalorizar, mas os juros de RF eram altos e de alguma forma compensavam o risco cambial. Mas agora sem a farra da RF no Brasil, a variação cambial ganha muito mais peso. 

Na prática, minha pergunta diária se desdobra em duas:

- investimentos já existentes: manter no Brasil ou migrar para o exterior? 

- aportes mensais: manter em USD ou enviar para o Brasil?

O que você faria? 

Faz sentido definir uma estratégia de balanceamento ligado ao câmbio, assim como fazemos para a alocação de ativos em geral? 


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Aposentadoria Brasil + EUA

 O post de hoje é bem específico, mas não tenho dúvidas que muitas pessoas estão nessa situação: segundo o Itamaraty, há mais de 3 milhões de brasileiros vivendo no exterior, sendo quase metade nos Estados Unidos.

Resumo da minha situação: cerca de 20 anos de contribuição: metade para o INSS no Brasil, metade para o sistêma de previdência pública dos EUA, o Social Security. 

Recentemente os dois países assinaram um acordo permitindo a soma do período de contribuição nos dois países para fins de cálculo de benefícios de aposentadoria.

Do lado do Brasil, pelo que entendi, a regra seria:

1) mínimo período de contribuição (carência) são 15 anos. Usando meu exemplo, assumindo 10 anos Brasil e 10 anos EUA, eu poderia considerar 20 anos de contribuição.

2) como usei o periodo nos EUA para completar a carência mínima, o benefício pago pelo Brasil seria proporcional aos anos trabalhados no Brasil comparado com o total Brasil + EUA. Sendo assim, conceitualmente eu teria direito a receber 50% (10 anos de 20) do valor que uma pessoa que tivesse contribuído 20 anos no Brasil receberia ao se aposentar por idade (o que seria outro cálculo que não vou focar aqui agora). O que não entendi é se a propoção é tempo Brasil comparado ao tempo total, ou tempo Brasil comparado ao total para chegar nos 15 anos (não dá pra saber no exemplo de cálculo que encontrei - https://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/SaoFrancisco/pt-br/file/Calculo-beneficio-acordo-bilateral-previdencia-BR-EUA.pdf )

Nos EUA, pelo que li as regras de aposentadoria exigem tempo de contribuição e idade mínima para que o trabalhador possa receber benefícios. A idade mínima é de 67 anos para homens e mulheres e o tempo mínimo de contribuição são 10 anos. O trabalhador pode optar por aposentar mais cedo (62 anos) ou mais tarde (70 anos), e receber um benefício menor ou maior. Exemplo: o benefício máximo para quem se aposenta mais cedo (62 anos) é de US$2.265. Para quem se aposenta com 67, o valor máximo do benefício sobe para US$3.011. E quem espera até os 70 anos para requerer a aposentadoria, tem o valor máximo aumentado para $3.250.

Isso é o básico. Preciso entender melhor as regras de ambos e simular os cálculos usando meus números para projetar futuros cenários e estratégias para maximizar os benefícios. Irei completar/corrigir este post à medida que eu for descobrindo. 

* * *

Eu nunca considerei benefícios de previdência social no meu plano de independência financeira, mas isso seria deixar dinheiro na mesa considerando que já contribuí (pelo valor máximo) por mais de 20 anos. Se há algo que eu possa fazer pra manter mesmo que um benefício mínimo a partir de uma certa idade, a hora de entender, e ajustar, é agora. Ainda que seja um valor pequeno, seria um adicional muito bem-vindo (ainda mais recebendo uma parte no Brasil, onde hoje pretendo morar quando alcançar a "melhor idade", e outra parte em dólares).

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Apresentação

 Nasci, estudei e iniciei minha carreira profissional no Brasil. Moro nos Estados Unidos há cerca de dez anos. Sempre trabalhei em multinacionais e, como dizem por aqui, subi progressivamente a escada corporativa até chegar a uma posição de nível exeutivo. com boa remuneração e benefícios, mas também com todas as agruras do mundo corporativo - as famosas "algemas de ouro".

Estou há mais de 20 anos nesse mundo corporativo, e olhando em retrospecto, cheguei até além do que imaginava. Sempre gostei muito do meu trabalho e estilo de vida, tinha orgulho de fazer parte daquela engrenagem e realmente curtia o mundo que meu trabalho me proporcionava. Muitas viagens, conhecendo pessoas interessantes, lugares (e hoteis/restaurantes) bacanas. E aprendendo muito. Dinheiro não foi o objetivo durante muito tempo da minha carreira, o que foi possível por ter a oportunidade de morar com meus pais até quase 30 anos sem precisar contribuir com as despesas da casa.

Cheguei a um primeiro cargo de gerência com 25 anos, e nesse ponto passei a ganhar razoavelmente (antes eu praticamente  apenas cobria os custos de trabalhar). Saí da casa dos pais, de forma que o aumento na receita foi praticamente eliminado pelo aumento dos gastos. Mas ainda assim sobrava, e por alguns anos realizei muitos sonhos de consumo. Em outras palavras, gastava tudo que sobrava. 

Comecei a poupar tarde, por volta dos trinta e poucos. A regra era: gasta o salário mensal, mas o que vier de bônus é religiosamente guardado. Aplicava em fundos, juros no Brasil uma beleza, zero esforço, zero risco e muito retorno. Talvez até pela facilidade, não me esforçava em aprender nada diferente. O dinheiro ficava lá, mas eu não acompanhava. Não me interessava se estava rendendo bem, já era um grande feito eu conseguir não gasta-lo.

Em algum momento nessa época, não me lembro o por quê, li "Pai Rico, Pai Pobre". Foi uma revolução. Por isso até hoje o recomendo para quem vem de um ambiente familiar com zero foco em educação financeira (como eu - assunto para outro post) e quer começar do zero. Comecei a ler fóruns de investimentos (acho que era o forum do "Blog do Pai Rico", nem sei se ainda existe), e daí passei a ler mais e mais, e a me arriscar comprando ações. Pouca coisa, mas aprender fazendo é a melhor coisa. 

Esse foi o período de aprendizado e consolidação do hábito de poupar e investir.

Nos anos seguintes veio o real período de acumulação: salário aumentando sem aumento do padrão de vida permitiu aportes altos e constantes nos últimos anos. Boa parte do salário + 100% de quaisquer bônus. O objetivo era poupar E viver bem, então passei a priorizar o que realmente importava pra mim. A partir daí, simplifiquei o budget para facilitar esses dois objetivos: despesas fixas, savings e o resto é gasto livre. 

Mudei para os EUA. O desafio seria aprender tudo novamente aqui. Dinâmicas completamente diferentes. Mais por inércia do que por planejamento, optei por primeiro focar na poupança e aprendizado, para só depois entrar no mercado de ações. Resultado: sucesso na poupança, fracasso no rendimento: perdi o "boom" da bolsa americana nos últimos anos e agora vivo com o fantasma do (bad) market timing (de novo, assunto para outro post).

Mas junto com os aumentos de salário vieram desgastes no trabalho; as coisas que me atraíam deixaram de ter graça (p.ex., antes eu gostava genuinamente de jantares de trabalho, hoje fujo a qualquer custo, detesto networking) e um stress acumulado. A verdade resumida é que meus interesses e objetivos mudaram, e agora a dança delicada do mundo corporativo realmente não me diverte mais. Já foi muito bom, não me arrependo dos anos investidos ali, mas sinto que a única coisa que me mantém é o medo de sair e me arrepender. De onde surgiu esse medo?

No caminho bem sucedido da independência financeira (o tal do FIRE), cheguei na estação do burnout. Este blog retratará as próximas paradas dessa jornada. Qual o próximo destino?

"Burnout going on FIRE"

Este é meu primeiro post. Quinta-feira, 24 de setembro de 2020. Há algum tempo comecei a acompanhar alguns blogs sobre finanças pessoais, mais precisamente blogs que relatam jornadas individuais em busca da independência financeira. 

Gosto de escrever e venho há algum tempo pensando em criar um blog com a mesma proposta de acompanhar minha evolução. O objetivo é compartilhar pensamentos, experiências e documentar a evolução não só da minha jornada patrimonial, mas da forma que penso e vejo as coisas em geral. 

O primeiro passo foi definir o nome do blog. No mundo ideal seria alguma coisa bem criativa, fácil de lembrar e de escrever. E que fosse novo. Não consegui nenhum que enquadrasse em todos os quesitos, então parti para o primeiro que me veio à cabeça.  

"Burnout going on FIRE". Achei um trocadilho bom e muito relacionado com minha situação atual: tentando sair do burnout e chegar no FIRE. Mas é em inglês, e embora eu more nos EUA já há alguns anos, quero fazer o blog em português e trocar ideia com leitores tambem brasileiros. Tudo isso porque pretendo voltar ao Brasil algum dia. Ainda não sei quando, mas parto do princípio que não quero me aposentar nos Estados Unidos.

Pensei em outros nomes, mas na minha cabeça era sempre burnout going on fire. Então vai ser em inglês mesmo. Pela alegria de seguir a intuição. 

Para facilitar, o url do blogger sera "bogofire". Ficou até bonitinho.

Falarei muito de FIRE. E de burnout. E da minha jornada de sair do segundo e chegar ao primeiro. 

Seja bem-vindo.