sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Mudança para os Estados Unidos por transferência no trabalho - Contrato Local x Expatriado

Eu sempre tive o sonho de morar um tempo no exterior. A maioria dos meus amigos fez intercâmbio durante o segundo grau. Passei no vestibular, entrei na faculdade e já emendei um emprego, e após 5 anos, surgiu o convite para uma transferência para os Estados Unidos. A proposta era de contrato local, sem previsão de retorno. Tive um frio na barriga, meu sonho era uma "experiência temporária", mas aceitei sem pensar muito. A coragem da juventude...

Bom, a experiência temporária já tem dez anos. Aprendendo tudo na marra. Ainda aprendendo. E com alguma experiência para compartilhar o que eu teria feito diferente quando me mudei, em termos financeiros.

Contrato de Trabalho

Como falei, a proposta que recebi foi de um contrato local, e não uma transferência temporária como expatriado. Dessa forma, tive meu contrato no Brasil encerrado e fui recontratado nos Estados Unidos. Recebi alguns benefícios de transferência (pagamento da mudança, bônus de saída em Reais e de entrada em dólares, assistência tributária, reembolso de custos de moradia e alimentação por um determinado período).

Ao contrário do Brasil, em que tudo é meio padronizado por lei, aqui nos EUA é tudo negociado. Salário, dias de férias, pagamentos em caso de encerramento do contrato de trabalho ("severance pay"), bônus, tudo. Quando me mudei, olhei só o salário e aceitei o primeiro pacote que a empresa me ofereceu sem negociar mais nada. Descobri que só tinha 5 dias de férias no ano, além dos feriados. Não negociei nenhum "severance", de forma que a empresa pode terminar meu contrato a qualquer momento pagando apenas os dias já trabalhados. Férias vencidas? Se não usou, não recebe.

Então a dica aqui é: pesquise, negocie, faça uma contra-proposta. Negocie o numero de dias de férias remuneradas, inclusive feriados (algumas empresas não pagam pelos feriados). Negocie um pagamento caso a empresa termine o contrato (demissão): X semanas e extensão do seguro saúde por X meses. E se você está sendo transferido do Brasil, além do bônus de transferência, negocie que a empresa se comprometa a pagar o custo da sua mudança de volta em caso de demissão (como parte do pacote de severance).

Uma pergunta que sempre me fazem: é melhor ser expatriado ou ter um contrato local? Depende muito. 

Em geral, o contrato de expatriação tem muitos benefícios como pagamento de aluguel, escola de filhos, passagens para toda a familia visitar o home country 1x por ano, manutenção dos benefícios no Brasil. Por outro lado, mantém-se o valor do salário do Brasil - muitas vezes com um bônus durante o período do expatrio - e dependendo da movimentação cambial, há uma diferença grande entre o salário da posição no Brasil (em Reais) do salário da posição no exterior (em dólares). Mesmo com os ajustes de custo de vida ("COLA - cost of living adjustments"), esse efeito costuma ser relevante. 

Transferir um(a) empregado(a) como expatriado(a) custa muito mais para o empregador (não necessariamente se refletindo em aumento equivalente para o empregado). Em geral, a empresa vai sempre tentar o contrato local pois é mais barato no total. Então, se possível, negocie um contrato local em condições bem mais favoráveis. Se você não tem intenção de ficar nos EUA, o contrato de expatriação é a melhor opção. Mantém o pagamento no Brasil de FGTS e outros benefícios locais, tem o período automaticamente computado para fins de aposentadoria no Brasil. Expatriados recebem auxilio moradia durante todo o período do contrato no exterior, seguro saude no Brasil e no exterior, alem de um aumento salarial durante o expatrio (via de regra 25%) + o famoso COLA, que é um ajuste pela variação do custo de vida (normalmente cambio). Bom ressaltar que este bônus temporário normalmente representa um aumento salarial no retorno ao pais, pois as empresas tendem a incorporar o aumento salarial (imagino que pela limitação na legislação de reduzir o salário). Pacotes costumam incluir passagens de retorno 1x por ano ao Brasil.

Para quem vem com familia, o contrato de expatriação tem ainda mais vantagens pois extende todos os benefícios aos membros da familia e, muitas vezes, também arca com o custo das escolas dos filhos (a partir de uma certa idade). O beneficio escolar é um dos mais valiosos na minha opinião. 

Com todas essas vantagens, por que alguém escolheria um contrato local?

Bem, o primeiro motivo seria no caso de o empregado conseguir negociar um salário local incorporando o valor desses benefícios. Também facilita a negociação para que a empresa custeie e “sponsor” um pedido de green card (já que a transferência será de forma definitiva - ou tem a intenção de ser).

Outra vantagem, pra quem é elegível ao recebimento de bonus de desempenho ou ações da empresa, é que normalmente esses benefícios sao calculados sobre o salário-base, que tende a ser maior no contrato local. 

CONCLUSÃO 

A melhor alternativa varia dependendo da situação de cada um: mudança solo ou com familia (e filhos), intenção de viver permanente no exterior, possibilidade de negociação, nível do cargo (que requer comparar salário fixo vs benefícios, alem de impactos de tributação). 

Algum ponto importante que não ressaltei? Deixe seus comentários e experiencias nos comentários para seguirmos a discussão.

Grande abraço e prosperidade!

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